Banco da Amazônia

“Construir um sindicalismo autônomo e independente, democrático, plural, oposta a qualquer tipo de sectarismo é o nosso grande desafio”

“Construir um sindicalismo autônomo e independente, democrático, plural, oposta a qualquer tipo de sectarismo é o nosso grande desafio”

Entrevista de Silvio Kanner ao Blog Ponto de Pauta

Em meados de 2012 a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia (AEBA) deflagrou aquela que seria a mais longa greve de toda a história do Banco no Pará. Foram 77 dias de intensos debates, mobilizações e rodadas de negociações. Entre as lideranças do movimento grevista estava o engenheiro agrônomoSilvio Kanner Pereira Farias, formado pela Universidade Federal Rural da Amazônia, Mestre em Agriculturas Amazônicas, com ênfase em agriculturas familiares e desenvolvimento sustentável pelo Instituto de ciências agrárias da UFPA.

Sílvio Kanner é concursado do Basa há 12 anos e ocupa a função de analista de projetos rurais da instituição. É presidente de uma das mais importantes associações de trabalhadores bancários, a AEBA com mais de 24 anos de existência e muita história de lutas para contar. Como militante da esquerda socialista e sindicalista vem dedicando-se a organização de um campo sindical crítico e combativo. “Construir um sindicalismo autônomo e independente, democrático, plural, oposta a qualquer tipo de sectarismo é o nosso grande desafio”, afirma.

Nesses últimos meses, junto com outras lideranças do movimento sindical, vem dedicando-se a organizar o I Encontro Estadual da Oposição Bancária do Pará, que será realizado no dia 24 de novembro de 2012.

Confira a entrevista:

Como você avalia o atual momento do sindicalismo no Brasil?

No mundo inteiro, os ataques do Capital avançam contra os direitos e conquistas da classe trabalhadora. E neste contexto é urgente e necessário que o movimento sindical brasileiro avance na constituição de um instrumento capaz de unificar e organizar os trabalhadores em suas lutas, tendo como base a independência de classe, desenvolvendo ações concretas e coordenadas da enorme parcela do movimento sindical combativo, que apesar das diferenças, não se rendeu à cooptação. Construir um sindicalismo autônomo e independente, democrático, plural, oposto a qualquer tipo de sectarismo é o nosso grande desafio.

É preciso situar e caracterizar muito bem o atual momento de crise que vive o sindicalismo no Brasil, em especial, o de trabalhadores bancários. O marco de minha análise reside a partir da conquista do Poder pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com a eleição de Lula em 2004 e seu braço sindical, a CUT. Sindicalistas vinculados a estes setores começaram afazer dos sindicatos pára-choque contra ataques da oposição ao governo e principalmente criou-se uma espécie de tropa de choque aliada, instrumentalizada para o controle social dos movimentos sociais e sindicais para dar ao governo “governabilidade”, enquanto este mesmo governo “operava” mudanças no país. Assim foi com a reforma da previdência, para a qual se mobilizou a base aliada comprada, entrando no terreno enlameado do mensalão e que culminou com a expulsão de dirigentes do próprio PTe agora mais recente com a condenação de vários destes “operadores” em diversas frentes de ação do esquema no Supremo Tribunal Federal (STF).

Qual a sua avaliação da atual direção do Sindicato dos Bancários do Pará?

O nosso objetivo é ajudar a dar um passo efetivo na reorganização de nosso Sindicato no Pará, revitalizá-lo, torná-lo mais dinâmico e independente. Reduzir a enorme distância que separa a direção e a base. Queremos e lutamos para que o Sindicato seja a voz, a representação de fato daqueles que estão no batente, sem intermediários, sem burocracia e com transparência. Isto é perfeitamente possível. E é por esse motivo que cresce cada vez mais o sentimento de mudança e a disposição da categoria.

Qual o objetivo da oposição bancária ao realizar esse primeiro encontro?

Nosso objetivo e tenho muita esperança em conseguir unir toda a categoria dos bancários para mudar a direção do sindicato. Chega de tanta humilhação que nossa categoria vem sofrendo ao longo de anos e não poder contar, infelizmente, com a direção do Sindicato. Esta é a nossa síntese. Sinto a enorme disposição da categoria para essa tarefa histórica e estamos às vésperas de nosso primeiro encontro estadual da oposição. Nesses últimos meses, seja através de reuniões, de encontros, assembleias e de diálogos permanentes com a nossa base temos nos dedicado a essa tarefa.

O nosso objetivo é fazer com que a categoria seja a voz principal desta mudança iminente. Por isso, a categoria foi chamada a participar da construção da campanha salarial dos Bancários 2012/2013. Mesmo enfrentado as dificuldades do árduo trabalho bancário, a participação da categoria foi exitosa na assembleia de votação da pauta, nos questionamentos à Direção da CONTRAF/CUT e do SEEB/PA. Não podemos aceitar o rebaixamento do índice nacional de reajuste salarial e nem subtração de nenhum direito.

Qual a avaliação que você faz da campanha salarial nacional dos bancários em 2012 e da greve realizada pela base da categoria?

Já de início, os companheiros e companheiras do BANPARÁ saíram na frente, mas a diretoria do SEEB/PA foi contra a GREVE no BANPARÁ! Mesmo assim seguimos acreditando na vitória! No dia 18/09 entraram em greve os demais Bancos e mais uma vez vimos o abandono da GREVE pelas direções do SEEB/PA e da CONTRAF/CUT.

Mas mesmo assim seguimos acreditando na luta, tomamos a greve em nossas mãos, fizemos piquetes, lotamos as assembleias, mobilizamos todos para a luta, pois sabíamos que precisávamos repor nossas perdas salariais, de uma política de saúde e segurança adequada, combater sem tréguas o assédio moral, denunciar as metas abusivas, pois é de nosso conhecimento que o governo não estava como nunca esteve, a favor dos trabalhadores e que por isso, nosso caminho para conquistar vitórias é a nossa união e organização.

Mesmo com a base da categoria indo para cima do governo e patrões a direção governista da CUT/CONTRAF recuou e levou a categoria à derrota?

Sim, e o momento decisivo foi na mesa de negociação com a FENABAN. O comando nacional aceitou 7,5% de reajuste salarial, uma proposta pífia diante dos lucros estratosféricos dos banqueiros e depois que a CONTRAF aceitou na mesa ocorreu às assembleias nos Estados e foi aí que se viu a verdadeira face do movimento sindical controlado pelo governo.

O quê aconteceu?

Nos bancos privados, onde não há PCS, não há estabilidade e onde os sindicatos não têm força para barrar a perseguição a proposta foi aprovada. Nos Bancos Públicos a base era contra a proposta. Por isso, a mesma foi rejeitada na grande parte dos Estados e a proposta da CAIXA foi rejeitada na assembleia de São Paulo. Para começar na hora de derrotar a categoria a CONTRAF e o SEEB/PA quebraram a unidade, separam as assembleias e deixaram cada categoria de cada Banco entregue a sua própria sorte.

Nas assembleias onde a base era contra a proposta os sindicalistas da CONTRAF e o SEEB/PA se apoiavam nos gerentes para aprovar a proposta do Banco. Nos Estados maiores essas lideranças atropelaram as assembleias, impediram a palavra de quem queria seguir na luta e impuseram a derrota ao movimento.

A categoria sabe que não é possível seguir na luta se a própria diretoria do SEEB/PA não apóia. Não precisávamos passar por essa situação tão difícil de arrocho salarial, perda de direitos, pressão por metas, abusos e assédios se nossas lideranças fossem comprometidas com as lutas da categoria.

É preciso avançar na organização de base e construir uma nova direção para o SEEB/PA?

Sim, pois já demonstramos nossa força e nossa coragem. Erguemos as nossas bandeiras e saímos para os embates. Estamos, somos e permaneceremos mobilizados, mas precisamos de lideranças que nos dêem a orientação correta, que não dividam a categoria, que não sejam atreladas ao governo, que estejam dispostas, a depender da vontade da base a permanecerem na luta! Mas não as que têm atualmente, que para agradar seus chefes no governo sufocam nossas lutas e nossas GREVES e nos deixam sempre com a sensação de que poderíamos ir mais longe!

A campanha salarial 2012/2013 foi assim, lutamos, mas nossas lideranças não respeitaram nossa vontade de lutar! Lutamos muito, mas conquistamos pouco. Lutamos, mas não levamos porque não basta coragem na base é preciso ter qualidade política de enfrentamento nas lideranças.

Queremos convidar toda a categoria a virar esta página. Vamos – UNIR OS BANCÁRIOS PARA MUDAR A DIREÇÃO DO SEEB/PA!

Para melhor organizarmos a mudança, vamos organizar o I Encontro Estadual da Oposição Bancária do Pará, que será realizado no dia 24 de novembro de 2012, em Belém do Pará, na sede da Associação dos Empregados do Banco da Amazônia – AEBA!

A vitória é dos que lutar e temos certeza que estamos no caminho certo para mudar a direção do SEEB/PA e construir um Sindicato de luta, forte, autônomo, independente e desatrelado a governos e patrões!

http://pontodepauta.wordpress.com/2012/11/19/entrevistasilvio-kanner-construir-um-sindicalismo-autonomo-e-independente-democratico-plural-oposta-a-qualquer-tipo-de-sectarismo-e-o-nosso-grande-desafio/

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